CARACTERIZAÇÃO DA ARRÁBIDA

 

Entre a Serra e o Mar, a Arrábida ergue-se, majestosa, marcando a paisagem e a vivência da região da Península de Setúbal. Mais do que uma “serra” – como, carinhosamente, é conhecida pelas populações locais - a Arrábida é uma extensa cordilheira, que se estende pelos territórios dos municípios de Palmela, Sesimbra e Setúbal, de mãos dadas com o Sado.

Sítio natural de valor excecional e ímpar pela sua beleza mas, também, enquanto importante testemunho de processos geológicos ilustrativos da história da vida na Terra e lugar de uma riqueza florística assinalável e única, a Arrábida apresenta-se como uma paisagem singular, rica em património geológico, ecológico e cultural… uma unidade orgânica, interdependente, em que património natural e cultural, material e imaterial, se encontram indissoluvelmente ligados, uma identidade geográfica única e excecional, que se pretende classificar e reconhecer como Reserva da Biosfera da UNESCO.


Habitada desde tempos imemoriais, a Arrábida é palco de atividades económicas diversas, sendo as mais características a pesca, a agricultura, a pecuária, a apicultura, a produção de vinho, queijo e outros produtos regionais de qualidade comprovada, sem esquecer o turismo.

ÁREA GEOGRÁFICA

 

A Arrábida é constituída por uma cordilheira que se localiza na extremidade meridional da Península de Setúbal, estendendo-se segundo uma direção WSW-ENE, desde o morro de Palmela até ao Cabo Espichel, numa área aproximada de 35km de comprimento por 6km de largura. Os seus limites são bem definidos a Ocidente e a Sul da Arrábida pelo mar, com arribas imponentes que caem bruscamente sobre ele, e a Norte e a Leste os limites confinam com a planície de areias com o morro de Palmela.

A costa da Arrábida é a maior quebra de direção do litoral ocidental português. O mar da Arrábida, no qual se situa o Parque Marinho Luiz Saldanha, desenvolve-se num troço de 26 km desta costa alta e escarpada, entre o Estuário do Sado e o Cabo Espichel, desde o intermareal até ao limite da plataforma continental.

 

mapa

 

 

 

PATRIMÓNIO NATURAL

 

A Serra da Arrábida é um dos espaços naturais de influência mediterrânica mais belos e significativos, uma região-chave, do ponto de vista geológico, para um melhor conhecimento e compreensão de etapas fundamentais da História da Terra. Aqui congregam-se especificidades que justificam a presença de comunidades vegetais bem preservadas, únicas a nível mundial. A Arrábida é, também, relevante ao nível dos ecossistemas marinhos, sendo uma área de elevada biodiversidade. O maciço sudoeste da Arrábida possui as maiores falésias à beira-mar de Portugal Continental, sendo o Risco a escarpa litoral calcária mais elevada da Europa.

A região da Arrábida contempla diversos fenómenos geológicos representativos da evolução da Terra, por exemplo, a cadeia arrabidina é a única na fachada atlântica que testemunha a propagação para Oeste do fecho progressivo do Oceano de Tétis e consequente formação do Mar Mediterrâneo devido à colisão, desde o Cretácico Superior, entre as placas de África e da Eurásia.

Do ponto de vista espeleológico, a Arrábida contém centenas de grutas, algumas delas excecionais pela singularidade e beleza das formações rochosas que albergam.

 

FALESIA

Fotografia de Francisco Rasteiro

Ao nível paleontológico, existem diversas jazidas fósseis cientificamente relevantes, sendo as mais conhecidas as pegadas de dinossáurios, associadas ao património cultural material e imaterial do Cabo Espichel.

ESPICHEL

 

A conjugação das características climáticas, geográficas e orográficas justificam a presença de comunidades vegetais únicas, a nível mundial, ricas em história evolutiva, que resultam numa paisagem vegetal excecional. Esta vegetação, apesar de algumas semelhanças com outras serras calcárias, apresenta aspetos exclusivos: o carrascal arbóreo – relíquia e único na Europa - e o tojal.

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Para além de um elevado índice de biodiversidade, existem espécies vegetais com elevado valor para a conservação. Salientam-se dois endemismos arrabidenses, ou seja, duas espécies que apenas existem na Arrábida: a Corriola do Espichel (Convolvulus fernandesii) e o Trovisco do Espichel (Euphorbia pedroi), que se encontram nas falésias entre Sesimbra e o Cabo Espichel.

VEGETAÇÃO

 

Estão inventariadas, na zona da Arrábida, doze espécies de anfíbios, dezassete de répteis, cento e noventa e sete de aves e trinta e quatro de mamíferos.

FAUNA TERRESTRE


Destaca-se a riqueza das comunidades de aves rupícolas são bastante ricas: a águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus) tem aqui o único local de nidificação conhecido em arriba marinha na Europa. O falcão-peregrino (Falco peregrinus) e a ógea (Falco subbuteo) são outras das espécies de rapina ameaçadas que nidificam nestas escarpas.

FALCAO E AGUIA1

 

Nas falésias, localizam-se grutas que albergam uma importante comunidade de morcegos, que inclui espécies ameaçadas, que aqui se reproduzem e hibernam.

MORCEGOS

 

Relativamente a invertebrados, salientamos o facto de o gorgulho esmeralda-rosado (Cneorhinus serranoi) e um caracol (Candidula setubalensis) ocorrerem exclusivamente na Serra da Arrábida, encontrando-se este último na Lista Vermelha da IUCN (espécies ameaçadas).

GOGULHO E CARACOL

 

A heterogeneidade de habitats, de elevada diversidade florística, em espécies aromáticas como o alecrim, o rosmaninho, tomilhos e madressilvas, determinam uma notável diversidade de insetos, onde se destacam, pela sua beleza, as borboletas, caso da Branca-Portuguesa (Euchloetagis) e da Aurora Amarela (Anthocharis euphenoides).

BORBOLETAS

 

A Arrábida tem, ainda, uma enorme importância internacional, no que diz respeito aos ecossistemas marinhos, com mil trezentas e vinte espécies registadas em 2011. Desta lista de espécies, onze são do grupo que inclui raias e tubarões, incluindo outras classificadas pelo Livro Vermelho da IUCN como vulneráveis ou com ameaça de extinção, e ainda uma população de golfinhos-roazes.

GOLFINHO

Fotografia de Francisco Rasteiro


PATRIMÓNIO CULTURAL – MATERIAL/IMATERIAL

 

A presença humana na Arrábida data desde o Paleolítico Inferior, como têm confirmado os diversos achados arqueológicos, sendo, igualmente, expressivo o património arqueológico datável do Neolítico Final – Calcolítico, da Idade do Bronze e da época Romana.

Devido às suas condições geográficas, a região da Arrábida testemunha, também, diferentes períodos de ocupação muçulmana e reconquista cristã do território, nomeadamente, através da sua arquitetura militar.

Neste âmbito, são de destacar os Castelos de Sesimbra e Palmela, tendo este sido a sede da Ordem de Santiago de Espada no território português, até à sua extinção. Inserido nesta rede de defesa do território, destaca-se, também, o Forte de São Filipe, em Setúbal. São de sublinhar, ainda, diversos exemplos notáveis de arquitetura civil e religiosa da Época Moderna.

Uma característica matricial da Arrábida é a de constituir um local de fortíssima personalidade paisagística, um limite, uma fronteira na terra do fim do mundo, um cenário sagrado propício à contemplação. É do isolamento ditado pelas condições geográficas e climáticas que surge o espírito do lugar, enquanto fronteira geográfica, humana e espiritual.

As manifestações culturais associadas à Arrábida – a religiosidade popular, assim como outras manifestações ligadas à agricultura, à pesca, à pastorícia, à gastronomia, com destaque para o queijo, o vinho, as artes de pesca e a construção naval tradicionais – constituem um património e conferem sentido a uma longa herança cultural, ativa, dinâmica, usada e exercida.

O território Arrábida preserva um conjunto significativo de tradições e de práticas rituais, que a própria comunidade mantém vivo e pujante, tendo sido possível, nos últimos anos, assistir a um rejuvenescimento de alguns destes momentos de celebração coletiva. São exemplos a Festa das Vindimas e a sua Bênção do 1.º Mosto, a Festa de Todos os Santos, em Quinta do Anjo (datada de 1756).

 

9 PATRIMONIO CULTURAL

 

 

PARQUE NATURAL DA ARRÁBIDA

 

O Parque Natural da Arrábida (PNA) nasce a 28 de julho de 1976, com a publicação do Decreto-Lei n.º 622/76, de 28 de julho, “reconhecendo a insuficiente proteção conferida pelas medidas preventivas decretadas para a zona… ”.
Integrado na cadeia montanhosa da Arrábida e área marítima adjacente, o PNA ocupa uma superfície de cerca de dezassete mil ha, dos quais mais de cinco mil são de superfície marinha, abrangendo os territórios de Palmela, Sesimbra e Setúbal.

Aqui, a vegetação apresenta-se próxima da sua forma primitiva, composta por antigas associações florísticas mediterrânicas anteriores às últimas glaciações, de que esta cordilheira ficou relativamente protegida. Nas zonas abrigadas da serra, encontramos carvalhais onde predominam o Carvalho-cerquinho e um maquis de carrascos, adernos, medronheiros, aroeiras e urzes arbóreas.

 

2 PATRIMONIO NATURAL

 

 

HISTÓRICO:

 

As características particulares do maciço Arrábico, levaram a que, desde os anos 40, se tivessem iniciado algumas tentativas para a sua proteção, culminando com a criação da Reserva da Arrábida em 16 de agosto de 1971 pelo Decreto n.º 355, abrangendo pouco mais do que a vertente sul da referida serra e das escarpas do Risco.

Esta classificação visou proteger os valores geológicos, florísticos, faunísticos e paisagísticos locais, bem como testemunhos materiais de ordem cultural e histórica. O principal objetivo da criação do Parque Natural da Arrábida (PNA), em 1976, foi a salvaguarda da sua flora, património natural de valor internacional, onde se registam 1450 espécies e subespécies de flora.

Em 1998, o valor da flora e da fauna marinhas da costa da Arrábida foi contemplado através da reclassificação da área protegida, incluindo uma área de uma reserva marinha, através do Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha.

Com o desenvolvimento dos estudos técnicos para a elaboração do plano de ordenamento do Parque, identificaram-se um conjunto de valores paisagísticos, geológicos, faunísticos, florísticos e de vegetação, numa área superior à área classificada, cuja relevância justificava a sua inclusão nos limites do Parque Natural. Assim, em 2003, os limites do Parque foram novamente alargados, para incluir a zona poente de Sesimbra, até ao Cabo Espichel, acompanhando o Parque Marinho Prof. Luiz Saldanha.

O PNA integra a Rede Natura 2000, inserindo-se no Sítio Arrábida/Espichel e abrangendo toda a Zona de Proteção Especial de Aves Cabo Espichel.

 

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PARQUE MARINHO PROF. LUIZ SALDANHA

 

PARQUE MARINHO PROFESSOR LUÍS SALDANHA

 

Localizado ao longo da costa Sul da Península de Setúbal, entre a Serra da Arrábida e o Cabo Espichel foi criado em 1998 um Parque Marinho com uma área de 52Km2. Recebeu a designação de Parque Marinho Professor Luiz Saldanha em homenagem a este biólogo que dedicou parte da sua carreira científica ao estudo daquelas costas. Fazendo parte integrante do Parque Natural da Arrábida trata-se de uma área protegida do sistema nacional gerido pelo Instituto da Conservação da Natureza. Para além deste reconhecimento nacional, toda a sua área está também integrada na rede Europeia de conservação – Rede Natura 2000.

É uma área com elevadíssima diversidade animal e vegetal estando registadas mais de 1100 espécies incluindo muitas com valor económico importante. Trata-se de uma zona com elevada produção primária e que é utilizada como local de refúgio e crescimento de juvenis de muitas espécies, nomeadamente de peixes. Ou seja, para além da riqueza de fauna e flora residente, a área é ainda importante na renovação de recursos que a utilizam nas fases críticas dos seus ciclos de vida, tendo um papel de “nursery” muitas vezes só atribuído aos estuários.

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